Guia para uma Galeria de Arte Subterrânea: As Estações de Metro de Lisboa

Lisboa não se destaca apenas pela sua beleza à superfície, mas também pela riqueza artística que esconde debaixo da terra. O metro da capital portuguesa é muito mais que um sistema de transporte rápido e eficaz: as suas estações formam uma verdadeira galeria de arte subterrânea, com obras de artistas conceituados, criando uma experiência cultural acessível por um simples bilhete de metro.

Cada estação de metro tem a sua própria personalidade, refletida em murais, azulejos e esculturas. Este artigo convida-o a embarcar numa viagem única, onde cada paragem revela uma obra de arte, mostrando o melhor do talento artístico nacional e internacional.

Estação de Cidade Universitária – Ciência e Arte em Harmonia

Na Estação Cidade Universitária, a arte assume uma dimensão intelectual. Projetada por Artur Rosa, a estação faz jus à sua localização, no coração do campus universitário de Lisboa, sendo um tributo à ciência e ao conhecimento. As suas paredes são adornadas com murais que representam temas científicos e académicos, numa paleta de cores suaves que trazem uma sensação de tranquilidade. As figuras geométricas de grande escala proporcionam uma experiência visual estimulante.


Estação do Oriente – A fusão de arte e arquitetura moderna

Parte do complexo projetado para a Expo 98, a Estação do Oriente é um exemplo de fusão entre a arte e a arquitetura. O arquiteto Santiago Calatrava desenhou esta estação como parte da Gare do Oriente, uma das principais portas de entrada de Lisboa. As suas estruturas orgânicas em metal e vidro contrastam com os azulejos tradicionais de António Ségui, criando um diálogo entre o tradicional e o contemporâneo. O uso extensivo de luz natural transforma esta estação numa verdadeira peça de arquitetura moderna, onde o funcional e o artístico coexistem.


Estação de Saldanha – Modernidade em forma de arte

A renovada Estação de Saldanha foi projetada pelo arquiteto Sanchez Jorge, que criou um espaço moderno e minimalista. Aqui, a arte aparece em detalhes subtis, com esculturas e instalações que acompanham os corredores longos e as linhas limpas da arquitetura. Este espaço é uma homenagem à modernidade, com intervenções artísticas contemporâneas que se integram harmoniosamente no design da estação. Além disso, várias citações adornam as paredes, proporcionando uma reflexão poética e intelectual aos que por ali passam, enriquecendo ainda mais a experiência dos viajantes.

Não muito longe, a Estação de Picoas, igualmente notável, conta com uma entrada decorada em estilo Arte Nova, uma oferta do metro de Paris, que acrescenta um toque histórico e artístico único ao local, reforçando a conexão cultural entre Lisboa e Paris.


Estação do Martim Moniz – Um Marco Histórico e Cultural

A estação de Martim Moniz é uma das mais historicamente interessantes da rede de metro de Lisboa. Localizada numa área que já foi palco de importantes momentos da história da cidade, esta estação reflete a rica herança multicultural de Lisboa. O bairro do Martim Moniz é conhecido pela sua diversidade cultural, abrigando comunidades de diferentes origens, incluindo africanas, indianas e asiáticas.

A estação, decorada por Guerrero e Costa Pinheiro, inclui elementos que fazem alusão à batalha que deu nome à praça, em homenagem a Martim Moniz, uma figura lendária que terá sacrificado a própria vida durante a reconquista de Lisboa aos mouros, no século XII. As paredes da estação são adornadas com painéis que remetem a esta narrativa histórica, ao mesmo tempo que celebram a modernidade e a diversidade cultural do bairro.


Estação do Parque – Dedicada a Almada Negreiros

A Estação do Parque, localizada na linha azul, foi decorada por Maria Keil, uma das artistas mais associadas à arte pública do metro lisboeta. Esta estação é uma homenagem a Almada Negreiros, uma das figuras mais importantes do modernismo português. As paredes estão revestidas com painéis que evocam os ideais do artista, usando formas geométricas abstratas em tons de azul e verde. A simplicidade elegante dos azulejos reflete a união entre arte e funcionalidade.


Estação das Olaias – Uma obra premiada internacionalmente

A Estação das Olaias é considerada uma das mais belas estações de metro do mundo, tendo sido premiada internacionalmente. Inaugurada em 1998, foi projetada pelo arquiteto Tomás Taveira, com a colaboração de vários artistas plásticos, incluindo Pedro Cabrita Reis e Graça Pereira Coutinho. A estação destaca-se pelos seus altos tetos e o uso vibrante de cor e luz. Os mosaicos coloridos, as estruturas geométricas e as colunas imponentes criam uma atmosfera quase futurista, um convite visual à contemplação.


Estação do Cais do Sodré – Uma homenagem ao rio Tejo

A estação do Cais do Sodré tem um design profundamente ligado ao rio Tejo. Decorada por Nuno Siqueira, com intervenção artística de António Dacosta, as suas paredes refletem motivos marítimos, convidando os viajantes a mergulhar na história de Lisboa como cidade portuária. Os tons de azul, branco e amarelo evocam a luminosidade das margens do rio e a relação íntima entre a cidade e o mar.

Um detalhe peculiar da estação são as múltiplas representações do Coelho Apressado de Alice no País das Maravilhas, uma alegoria clara às pessoas que passam apressadas pela estação, muitas vezes sem notar sua presença. O Coelho, sempre a correr contra o tempo, reflete o ritmo acelerado da vida urbana, em que os viajantes se movimentam rapidamente pelas plataformas, quase sem perceberem este toque de fantasia nas paredes ao seu redor.


Estação do Marquês de Pombal – O símbolo da renovação da cidade

No coração de Lisboa, a Estação do Marquês de Pombal destaca-se pela sua simbologia histórica. O design desta estação foi inspirado no famoso estadista do século XVIII que reconstruiu Lisboa após o terramoto de 1755. Aqui, o artista João Abel Manta utilizou painéis que recriam a reconstrução da cidade, com imagens do Marquês e elementos simbólicos da Lisboa renascentista. A paleta de cores sóbrias, em tons de azul e branco, reflete a seriedade do tema, transformando esta estação num tributo ao renascimento de Lisboa.


Estas são apenas algumas das muitas estações que transformam o metro de Lisboa numa galeria de arte acessível a todos. Uma viagem de metro pode ser muito mais do que uma simples deslocação – é uma oportunidade de descobrir obras de arte, de dialogar com a história da cidade e de apreciar a criatividade de alguns dos melhores artistas portugueses. Da próxima vez que entrar no metro, olhe à sua volta e deixe-se surpreender pelo que estas estações têm para oferecer!