Elevador de Santa Justa e funiculares de Lisboa

Lisboa é chamada de Cidade das Sete Colinas, mas há quem diga que são mais; numa coisa estamos de acordo: subir as colinas não é tarefa fácil, mas no final de cada subida somos sempre surpreendidos por vistas magníficas sobre a cidade. A chegada dos elevadores à cidade veio facilitar as subidas aos bairros mais elevados, com o benefício de podermos contemplar o quotidiano ao redor sem perder o fôlego, e tudo isto a bordo de uma cabine vintage que transborda elegância. No final do século XIX existiam vários ascensores na cidade, alguns realizavam percursos tão extensos que mais se assemelhavam aos famosos elétricos que vemos hoje a circular sobre carris. De todas essas “linhas” restam apenas três ascensores e o impressionante elevador de Santa Justa.

Elevador de Santa Justa

Inaugurado em 1902, é hoje Monumento Nacional e um dos mais visitados em Lisboa. Construído por Raoul Mesnier du Ponsard em estilo neo-gótico, tem duas cabines que sobem 30 metros, desde a rua do Ouro, até a um miradouro, de onde se avista Lisboa desde o Tejo, a colina do castelo, a Baixa, e até ao topo do parque Eduardo VII. A plataforma superior estabelece ainda uma ligação pedonal ao Largo do Carmo onde encontramos o grandioso Convento do Carmo, do século XIV/início século XV em estilo gótico. Os seus arcos quebrados já não sustentam o teto, que ficou destruído após o terramoto de 1755. E mesmo ao lado, o quartel do Carmo, sede do comando-geral da GNR onde se refugiou e foi detido Marcelo Caetano, Presidente do Conselho do Estado Novo marcando a Revolução do 25 de Abril e pondo fim à ditadura que governava Portugal desde 1926. O elevador de Santa Justa possui 2 cabines que trabalham ainda com o seu mecanismo original e, entre várias curiosidades, possui um sistema de para-quedas que nunca foi utilizado. Os rendilhados em ferro e madeira, as escadarias, ao gosto gótico conferem o encanto a esta torre, onde todos querem subir para descobrir os encantos da cidade – e já agora, porque não? – uma travessia ao Largo do Carmo para provar a célebre ginjinha que se encontra um pouco por toda a cidade nos seus cafés mais antigos.

Sobe a Colina de nome Chagas.

Ascensor da Bica

É o favorito dos postais de Lisboa, pelas vistas sobre o rio, entre os edifícios floridos de varandas de ferro forjado. Também da autoria de Raoul Mesnier du Ponsard, inaugurado em 1892. São também as duas cabines mais pequenas de ascensores da cidade, o que lhe confere um ar encantador. Funcionava, originalmente, e como os outros ascensores, a contrapeso de água, ou seja: quando o depósito da cabine superior enchia de água, o peso aumentava e fazia-a descer ao nível inferior, simultaneamente elevando a cabine inferior para o nível superior, que estava mais leve, por ter um depósito vazio. Houve ainda uma fase de locomoção a vapor, até à transição final para a energia elétrica. Hoje em dia, quando uma das cabines está pronta a deslocar-se, acende uma lâmpada na outra cabine para avisar o guarda-freio, que se prepara para iniciar a deslocação também. As cabines encontram-se a meio do caminho, e como a velocidade de deslocação não é grande, há passageiros que chegam mesmo a ter tempo de trocar dois dedos de conversa com os vizinhos que por ali passam a pé, lado a lado, pela calçada. No terminal da rua de São Paulo encontramos a bela entrada em estilo Arte Nova com o interior forrado a azulejos, e no terminal da rua do Calhariz está, por baixo do chão, a maquinaria de funcionamento do funicular. Em 2010, o artista plástico Alexandre Farto (conhecido mundialmente como Vhils, pelas suas intervenções artísticas em edifícios urbanos), no âmbito do projeto da Carris “Arte em Movimento” (integrado num programa de Apoio da Arte Contemporânea Portuguesa) realizou o revestimento de película metálica refletora na cabine deste ascensor – e mais tarde, em 2013, foi feito um revestimento com padrão ilustrativo da calçada portuguesa.

Sobe a Colina de nome Santa Catarina.

Ascensor da Glória

Do alto do agradável miradouro de São Pedro de Alcântara, está uma cabine do ascensor da Glória, pronta para nos levar da zona do Bairro Alto até à Avenida da Liberdade, mais precisamente à Praça dos Restauradores, junto ao Hard Rock Café. Este ascensor não sobe e desce a direito, também curva e tem uma inclinação de cerca de 17%, pelo que a viagem se torna mais impressionante, mas nada que assuste os corações mais sensíveis. Foi inaugurado em 1885, e tinha inicialmente um terminal em estilo Arte Nova na zona inferior (Avenida da Liberdade) que foi posteriormente retirado. O percurso pela calçada da Glória é de 265 metros, e novamente entre as curiosidades que completam estes meios de transporte, até ao final do século XIX, as cabines eram iluminadas por velas, na realização das deslocações noturnas.

Sobe a colina de nome São Roque.

Ascensor do Lavra

Inaugurado em 1884, é o mais antigo da cidade. Vai do Largo da Anunciada à Rua Câmara Pestana, e tem uma inclinação média superior à do ascensor da Glória: 22,9%. Descobre-se sobretudo quando percorremos a Rua das Portas de Santo Antão, conhecida pelos vários restaurantes de cozinha portuguesa, assim como por salas de espetáculo célebres como o Coliseu, ou o Politeama. É, de todos, o ascensor menos popular entre visitantes – e até entre habitantes da cidade! – uma vez que não dá acesso a nenhum ponto identificado como sendo de interesse turístico. Mas, para os que têm alma de explorador, é uma zona da cidade de caráter singular, além de se descobrir nas imediações um miradouro que mostra a cidade de uma perspetiva diferente.

Sobe a Colina de nome Santana.

Curiosos com estes meios de transporte vintage?

Com os bilhetes Yellowbus o acesso é gratuito e ilimitado durante a sua validade para que possam viver esta experiência. Tal como os autocarros panorâmicos, o Yellowboat ou os elétricos antigos, os funiculares são uma maneira única de descobrir a cidade de Lisboa.